Campo Grande (MS) – Nos dias 02 e 03 de abril, a cidade de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, sediou o 1º Seminário Internacional de Manejo Integrado do Fogo (MIF) no Pantanal. O evento, realizado no Auditório do Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul (MPMS), reuniu autoridades, especialistas, pesquisadores e representantes de diversas entidades nacionais e internacionais, entre elas, o Corpo de Bombeiros Militar do Estado (CBMMS).
O propósito do seminário foi discutir soluções para o manejo do fogo e seus impactos sobre o ecossistema pantaneiro, sendo essencial para traçar estratégias e propor novos modelos de governança para lidar com a crescente ameaça dos incêndios na região.
O evento destacou ainda a importância da coordenação e parcerias entre as diversas instituições envolvidas na preservação ambiental, com foco especial no Manejo Integrado do Fogo (MIF). Além de auxiliar no controle das queimadas, o MIF visa também criar um plano estratégico para reduzir a biomassa acumulada no solo, diminuindo assim a incidência de incêndios e seus danos ao meio ambiente e à economia local.
Ao abordar a necessidade de ação coordenada, o seminário ressaltou que os incêndios no Pantanal não podem ser enfrentados de forma isolada, sendo fundamental a colaboração entre organizações públicas, privadas e da sociedade civil.
Representando o Corpo de Bombeiros Militar no seminário, o Major Eduardo Rachid Teixeira, subdiretor da Diretoria de Proteção Ambiental da Corporação, participou das discussões e explicou o objetivo dessa união de forças entre todos os entes.
“A proposta do seminário é justamente trazer esses conhecimentos para que o nosso desenvolvimento seja mais acelerado. O manejo do fogo é o uso do fogo como ferramenta para a manutenção da paisagem e da microbiota como um todo. Nesse contexto, o CBMMS vai atuar junto ao Imasul na execução e promoção do manejo integrado do fogo nos parques estaduais”, explicou.
Ainda segundo ele, nesse cenário a Corporação manterá e reforçará o trabalho de prevenção e orientação junto à comunidade para a execução correta das ações de manejo.
“O CBMMS é um facilitador e parceiro das comunidades que residem no Pantanal, bem como dos produtores rurais, visando compartilhar responsabilidades e atuando na formação de brigadas. Nosso objetivo com tudo isso é mudar esse cenário de incêndio, passando a apoiar as iniciativas de manejo do fogo e regular os excessos, aumentando as iniciativas dos proprietários, da sociedade civil organizada, no sentido de aumentar a resiliência da comunidade, criando suas próprias brigadas e manejando o fogo de maneira consciente, com respaldo do Estado”, disse.
O seminário contou com palestras de especialistas que detalharam o uso do fogo no manejo integrando abrangendo desde as políticas públicas até os avanços na ciência e na legislação brasileira. Um dos momentos de destaque foi o pronunciamento do Secretário Extraordinário do Ministério do Meio Ambiente, André Lima, sobre os progressos da Política Nacional de Manejo do Fogo, com ênfase na criação do COMIFE (Comitê Nacional de Manejo Integrado do Fogo). O comitê, segundo Lima, tem publicado regulamentos importantes, como as resoluções COMIFE 1 e COMIFE 2, que proporcionam novos direcionamentos para o manejo do fogo e garantem a integração entre os diferentes órgãos envolvidos. Essas novas diretrizes são um passo importante para aprimorar a gestão do fogo no Brasil, alinhando ações de prevenção e controle com a proteção de ecossistemas vitais, como o Pantanal.
Mauren Lazzaretti, secretária da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais (SEMA) de Mato Grosso, defendeu a criação de critérios mais abrangentes para avaliar os efeitos dos incêndios, não se limitando apenas à contagem de focos de calor e áreas queimadas. Esse ponto foi reforçado pelo promotor de justiça do MPMS, Luciano Loubet, que observou que a maioria dos incêndios ocorre em áreas particulares, o que significa que os proprietários dessas terras têm um papel fundamental na solução do problema. Segundo ele, as soluções ambientais não podem ser dissociadas das soluções econômicas, sendo imprescindível integrar aspectos sociais e econômicos na formulação de políticas de manejo do fogo.
Além disso, foi ressaltada a importância de uma base científica sólida para apoiar as decisões sobre o manejo do fogo. Como o fogo é um fenômeno complexo e dinâmico, cada evento de incêndio deve ser monitorado de forma contínua para que lições possam ser extraídas e aplicadas a futuras ações. A coleta e análise de dados confiáveis são essenciais para garantir que as intervenções sejam eficazes e sustentáveis. Nesse contexto, o seminário também discutiu as abordagens internacionais sobre o manejo do fogo, comparando práticas de diferentes países. Nos Estados Unidos, por exemplo, a utilização do fogo é regulamentada, e os cidadãos têm o direito de utilizá-lo, mas também a responsabilidade de fazê-lo de forma controlada e com o devido treinamento. Isso evidencia que o manejo do fogo deve ser acompanhado de uma educação contínua, focada na capacitação e no respeito às questões ambientais e sociais.
Outro tema central do evento foi a pirodiversidade, que é a diversidade propiciada pelo fogo, abordada por diversos palestrantes, como o especialista Cristian, que enfatizou que o Manejo Integrado do Fogo não se limita à queima prescrita, mas também envolve uma gestão estratégica do território. O controle do fogo deve ser visto de maneira integrada, considerando aspectos de conservação e bioeconomia, com o apoio contínuo da ciência. A mudança climática tem impactado significativamente a gestão de incêndios, principalmente no Pantanal, onde a falta de dados climáticos confiáveis dificulta a tomada de decisões baseadas em informações precisas. A prática do fogo preventivo, aliada ao manejo adequado, permite a preservação da biodiversidade e a manutenção da pirodiversidade, ou seja, a diversidade de tipos de fogo utilizados para diferentes objetivos e em diferentes contextos.
A participação das comunidades locais também foi abordada como um ponto essencial para a eficácia do manejo integrado. A inclusão de moradores, proprietários rurais e outros atores da sociedade é fundamental para garantir que as políticas de manejo do fogo sejam implementadas de maneira eficaz e adaptadas às realidades locais. Além disso, a resiliência das comunidades diante das mudanças climáticas também depende de uma gestão mais integrada e participativa, onde a capacitação contínua e o envolvimento de todos são fatores-chave para o sucesso das estratégias.
O seminário também destacou o aumento do número de brigadistas no Brasil, com um investimento crescente no treinamento e na capacitação de profissionais que atuam diretamente no combate aos incêndios. A atuação de brigadistas, junto a órgãos governamentais, ONGs, e instituições de pesquisa, como o Instituto Tamanduá, SOS Pantanal, Onçafari, demonstra a importância da integração entre o poder público e a sociedade civil para a proteção do Pantanal.
Ao finalizar o seminário, o Tenente-Coronel Leonardo Rodrigues Congro, Assessor Bombeiro Militar na SEMADESC/MS e atual Presidente do Comitê Interinstitucional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais de Mato Grosso do Sul para a gestão 2024/2026, durante a palestra “Governança do Manejo Integrado do Fogo no Estado de Mato Grosso do Sul” destacou “o forte engajamento interinstitucional promovido pelo Estado por meio do Centro Integrado de Coordenação Estadual (CICOE/MS), além da alta qualidade dos encontros realizados pelo Comitê do Fogo desde sua reativação em 2017.” Bem como, pontuou que

” Este trabalho conjunto tem sido fundamental para o fortalecimento das ações de prevenção e combate aos incêndios florestais.”
O seminário, que também contou com a troca de conhecimentos entre representantes de diferentes países, como Portugal, Bolívia e Estados Unidos, além da participação de corpos de bombeiros militares do Brasil e comunidades indígenas, foi crucial para o enriquecimento das discussões e para a construção de soluções conjuntas. A união de múltiplos agentes foi um reflexo claro de como a cooperação internacional e a atuação local podem se somar para enfrentar os desafios globais de forma mais eficaz.
Assessoria de Comunicação
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