Campo Grande (MS) – Dois meses após passar pelo procedimento de doação de medula óssea que salvou a vida de um paciente ainda desconhecido, o Tenente-Coronel Wellington Rodrigo de Lima Bento, do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul (CBMMS), não encarou o ato como uma missão concluída.
Ao contrário disso, a doação foi apenas o começo de um novo processo, o de atuar como incentivador da causa em busca de conscientizar mais pessoas sobre a importância de ser um doador voluntário.
O procedimento para doação da medula aconteceu no dia 24 de março deste ano, no Hospital Monte Sinai, em Juiz de Fora (MG), unidade que é referência mundial na realização de transplantes de células-tronco. Porém, os preparativos começaram em 23 de dezembro de 2024, quando o militar recebeu a ligação do Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME), informando sobre a probabilidade de fazer a doação para um paciente que aguardava o transplante.
Após o contato, Rodrigo Lima realizou vários exames que comprovaram a compatibilidade e passou a seguir à risca as medidas necessárias para realizar o procedimento, incluindo o consumo de medicamentos para aumentar a produção de células-tronco.
Em seguida, foi definido o método da coleta, que no caso dele, foi a aférese, realizada por meio das artérias carótidas, localizadas no pescoço do doador. O procedimento é semelhante a uma hemodiálise, durou cerca de cinco horas e removeu apenas as células-tronco que posteriormente foram encaminhadas para o receptor.

Rodrigo Lima explica que a identidade do paciente é mantida sob sigilo por 18 meses. Somente após esse período, com o consentimento de ambas as partes, doador e receptor poderão se conhecer, o que é intermediado pelo REDOME.
“Foi feita toda uma logística, tudo pelo SUS, e minha doação seguiu para o estado de São Paulo. A pessoa recebeu a medula no dia 25 de março, mas não sei se o paciente é de lá, se é homem ou mulher, adulto ou criança”, disse.
Cadastrado no REDOME há mais de 20 anos, ele viu sua vida ser transformada depois da doação e a emoção ainda fala mais alto quando aborda o assunto. “Essa questão da doação me impactou muito emocionalmente”, afirma
Mesmo exercendo a profissão que tem como maior missão salvar vidas, o militar explica que a doação de medula foi uma forma diferente e muito gratificante de devolver a chance de viver à outra pessoa. Ele conta que a sensação inexplicável se transformou em ainda mais vontade de ajudar e hoje busca, por meio da divulgação de informações, esclarecer as dúvidas e mitos sobre o procedimento.
“Salvar está no nosso sangue. Depois que passei por esse processo, muitas pessoas, até da Corporação, têm conversado comigo e perguntado como fazer o cadastro. Outras já são cadastradas e não sabem que precisam atualizar os dados. Eu explico como faz. Em contato com o REDOME e com o Hemosul, eles me falaram que muitas pessoas estão cadastradas, mas esses cadastros estão desatualizados. Agora, meu objetivo é continuar ajudando dessa forma. Tendo mais pessoas cadastradas, a gente consegue salvar mais vidas e aumenta a probabilidade”, explica.
Um em 100 mil
De acordo com o REDOME, no Brasil, a chance de compatibilidade entre membros da mesma família é de 25%. Já entre não aparentados, essa probabilidade é de apenas 1% a cada 100 mil pessoas. Por isso, Rodrigo Lima se considera quase um ganhador da loteria. A diferença, segundo ele, é que ser esse 1% e poder salvar a vida de alguém que ele nem imagina quem seja, não tem preço.
A medula óssea é um tecido líquido e gelatinoso, concentrado no interior dos ossos. O transplante desse material é um procedimento essencial para tratar doenças graves do sangue e do sistema imunológico, como leucemias, linfomas, aplasia de medula, síndromes de imunodeficiência e mielomas múltiplos. Durante o procedimento, é feita a substituição da medula óssea doente ou deficitária por uma saudável.
Cadastro de doadores
No Mato Grosso do Sul, o cadastro de voluntários para doação é feito na rede Hemosul, que possui hemocentros em Campo Grande e Dourados, além de núcleos de hemoterapia, postos de coleta (que podem ser móveis ou fixos) e agência transfusional, instalados em regiões específicas do Estado.
Os dados são encaminhados ao REDOME, que foi criado em 1993 para reunir informações de pessoas dispostas a doar medula óssea para quem precisa de transplante. O registro é coordenado pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) e pertence ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Após o cadastro do voluntário, os dados são cruzados com as informações do Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea (REREME) para verificação de compatibilidade entre pacientes e doadores. Essa busca é automática e não existe fila.
Dados do REDOME apontam que no Brasil, o cadastro de pacientes que necessitam de transplante de medula cresceu 25,8% entre os anos de 2022 e 2024 e, até novembro, contava 2.060 pacientes. Desse total, pelo menos 650 aguardam por um doador que não seja seu parente.
Por outro lado, existem hoje cerca de 6 milhões de voluntários cadastrados. Embora o número pareça alto, é preciso considerar a baixa probabilidade de compatibilidade, mantendo os esforços para ampliar o número.
Confira abaixo informações sobre doação e orientações de como se tornar um voluntário ou atualizar o cadastro. Para outras dúvidas, acesse o portal do REDOME: https://redome.inca.gov.br/.
Como se tornar um doador
Para se tornar um doador voluntário de medula óssea, é preciso ir ao Hemocentro mais próximo da sua casa, realizar um cadastro no REDOME e coletar uma amostra de sangue (10 ml) para exame de tipagem HLA.
O que é necessário?
- Ter entre 18 e 35 anos de idade (O doador permanece no cadastro até 60 anos e pode realizar a doação até esta idade).
- Um documento de identificação oficial com foto.
- Estar em bom estado geral de saúde.
- Não ter nenhuma doença impeditiva para cadastro e doação de medula óssea.
Atualização do cadastro
A atualização do cadastro pode ser realizada no site (https://redome.inca.gov.br/doador-atualize-seu-cadastro/) ou aplicativo do REDOME. O procedimento é simples e leva apenas alguns segundos.

Carteira e Declaração de Doador
O voluntário pode obter a carteirinha e a declaração de cadastro de doador por meio do aplicativo REDOME (Android e IOS). Basta fazer download na loja de aplicativos do seu celular e fornecer seus dados de identificação.
Atualmente, a carteirinha e a declaração do aplicativo são os únicos meios fornecidos pelo REDOME como comprovação de cadastro, apenas para aqueles que são voluntários à doação não aparentada.
O fornecimento de declaração com data da doação ou o atestado, só podem ser fornecidos para pessoas que efetivaram a doação de medula óssea. Sendo assim, não são fornecidos aos que fazem parte do cadastro e não realizaram a doação de medula.

Como é realizada a doação de medula óssea
A doação de medula óssea pode ser feita de duas formas: punção ou aférese. A decisão sobre o método é exclusiva dos médicos assistentes.
Punção: procedimento realizado sob anestesia em que a medula óssea é retirada do interior do osso da bacia, por meio de punções. Requer internação de 24h, podendo ocorrer dor no local da punção, nos primeiros dias, que pode ser amenizada com uso de analgésicos. O tempo de recuperação ocorre em torno de 15 dias.
Aférese: método em que o doador faz uso de uma medicação por cinco dias, com o objetivo de aumentar a produção de células-tronco circulantes no seu sangue. Durante o uso desta substância, pode ocorrer dor óssea e muscular, além de cefaleia. Após esse período, a doação é realizada por meio de uma máquina de aférese, que colhe o sangue através de duas veias do doador, uma em cada braço, ou uma veia profunda, separa as células-tronco e devolve os componentes do sangue que não são necessários para o paciente. Não há necessidade de internação e anestesia. Poderão ocorrer náuseas, dormências, sensação de frio e hematoma no local do acesso.

Fotos: arquivo pessoal
Assessoria de Comunicação
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