Campo Grande (MS) – Nesta quinta-feira (1), completou 44 anos um dos fatos mais assustadores da história do Brasil, que ocorreu às 08:54h do dia 1° de fevereiro de 1974 em um ar condicionado localizado no 12° andar do Edifício Joelma onde apresentou problemas técnicos e entrou em curto circuito, iniciando o incêndio. As chamas espalharam-se rapidamente pelos demais pavimentos em razão da grande quantidade de materiais inflamáveis e da falta de regramentos preventivos ligados a incêndios que não eram obrigatórios à época como escadas de emergência, brigadas de incêndio ou plano de evacuação. No início do sinistro, muitos conseguiram fugir pelos elevadores, até que esses pararam de funcionar e também provocaram várias mortes, a escada foi rapidamente tomada pela densa fumaça, impedindo a fuga dos ocupantes, que ao invés de descerem, começaram a subir, na esperança de serem resgatados no topo do prédio, crendo na existência de um heliponto, porém, encontraram apenas uma laje com telhado feito de amianto.
Os Bombeiros Militares chegaram ao edifício Joelma (na região central de São Paulo) às 9h10, pouco tempo depois do início do incêndio, mas as escadas Magirus e os jatos d”água não conseguiram alcançar os andares mais altos.
Aí então começou a atuação heroica dos nossos Bombeiros Militares e Policiais Militares, no momento em que todas as esperanças desaparecem e os riscos são extremos, destacam-se os fortes de caráter, os destemidos, e os corajosos, que conhecem o perigo e mesmo assim não deixam de atuar e avançar!
O COE – Comandos e Operações Especiais – em operação conjunta com helicópteros da FAB – Força Aérea Brasileira, realizaram a primeira operação helitransportada da América do Sul, quando do resgate das vítimas que estavam inacessíveis no telhado do Edifício Joelma.
O primeiro guerreiro a saltar de um helicóptero civil sobre o edifício em chamas foi o Sgt PM CASSANIGA do COE (segundo relatos foi do helicóptero do DERSA, pilotado por Silvio Monteiro). Ele saltou da aeronave a uma altura de cerca de 4 metros e quando tocou o teto fraturou seu tornozelo, mesmo assim, esqueceu a dor e organizou o salvamento.
O único helicóptero que teve atuação efetiva na retirada de pessoas do teto do Joelma foi o helicóptero militar UH-1H da FAB pilotado pelo Maj Av Pradatzki, Ten Av Taketani e tripulado pelos seguintes militares: Sgt Silva, mecânico da aeronave, o então Ten PM Nakaharada (COE), Sd PM Juvenal (COE), Sd PM Cid Monteiro (COE) e o médico civil Dr Wanderley. Essa foi a segunda equipe a desembarcar no telhado do Joelma que nesse ponto alcançava temperatura superior a 100° Celsius, com o detalhe de que nenhum deles dispunham de equipamentos apropriados para o resgate, como roupas, máscaras, ancoragem, etc.
Como o helicóptero militar não conseguia pousar no teto do edifício, as pessoas se agarravam nos esquis do UH-1H da FAB e, com ajuda da tripulação, eram colocadas para dentro do helicóptero. Foi uma operação arriscada de embarque a baixa altura, mas que funcionou, sendo a pioneira na América do Sul, nunca antes realizada.
O helicóptero UH-1H fazia pairado sobre o edifício e conseguia retirar as pessoas. Os feridos eram levados por ele ao heliponto do prédio da Câmara Municipal, onde ficaram pousados os demais helicópteros e seus pilotos civis (aeronaves civis da Pirelli, Papel Simão, DERSA, etc) auxiliando as operações de salvamento, transportando-as aos hospitais.
Enquanto isso, o Comandante Carlos Alberto, primeiro piloto de helicóptero do Brasil, com a ajuda do Eng. Carlo de Bellegarde de Saint Lary, pousou o helicóptero da empresa Pirelli sobre uma pequena laje de um prédio vizinho. Ali, os bombeiros passaram cordas, ligando os dois prédios e tentavam retirar as pessoas, sendo que atravessaram os prédios, utilizando-se da técnica “comando craw”, os então Cap PM Hélio Caldas do Bombeiro, o Ten PM Lisias (COE), o Sd PM Antônio Benedito Santos (COE) e o Sd PM Osmar Lachelli (COE). Além desses, participaram do salvamento no edifício, o Cap PM Idalécio, Sgt PM Newton, Sd PM Fucile e Sd PM Santos. Certamente existem outros profissionais que atuaram nesse incêndio.
Às 13h30, todos os sobreviventes haviam sido resgatados. Dos aproximadamente 756 ocupantes do edifício, 191 morreram e mais de 300 ficaram feridos.
E, logo após este incêndio no Edifício Joelma, na manhã do dia 7 de fevereiro de 1974, o prefeito em atividade na época, publicou um decreto com normas de segurança para prédios na capital paulista. A normativa foi uma resposta ao clamor popular pelo fim de incêndios tão graves quanto os dos edifícios Joelma e Andraus.
A nova lei foi aplicada diretamente em prédios em construção ou que passariam por reforma, além dos edifícios que fossem notificados como inseguros por fiscais da prefeitura. O decreto legislava sobre a classificação do prédio, materiais utilizados na construção, lotação máxima, rotas de fuga, resistência ao fogo, suprimento de água para combater o fogo, extintores e para-raios.
A amplitude do decreto demonstrou a fragilidade da legislação vigente até o incêndio trágico do Joelma.
Proteção contra o fogo
Segundo a recomendação pós-Joelma, todas as partes dos prédios deveriam apresentar resistência ao fogo por, no mínimo, 4 horas. Além disso, todas as paredes externas deveriam ser construídas com material à prova de fogo.
Pela primeira vez fica proibida a construção de coberturas com material combustível, a não ser em camada de impermeabilização. Também se tornou obrigatório o uso de material resistente ao fogo nas escadas. O uso de madeira só seria permitido nos corrimões.
Material inflamável
Uma das características mais marcantes do incêndio que atingiu o Joelma foi a rápida propagação das chamas. Temendo novo desastre, a prefeitura passou a classificar os prédios de acordo com os materiais depositados ou manipulados em seu interior.
Hidrantes, Sprinkler e extintores
Com a nova determinação municipal, os hidrantes deveriam permanecer em locais estratégicos, ficando no máximo à distância de 30 metros do edifício. Pela primeira vez, a prefeitura estabelece que as tomadas de água devessem ser dotadas de conexões compatíveis com as mangueiras do Corpo de Bombeiros e que sejam independentes ao quadro de água do edifício em questão.
A resolução estipulou também que os edifícios deveriam implantar um sistema de chuveiros automáticos contra incêndios (sprinker). Segundo a norma, o suprimento deve ser assegurado por duas fontes independentes de água para evitar uma pane na irrigação.
Código de Edificações
Pouco mais de um ano após a tragédia, o prefeito Egydio Setúbal promulgou a Lei 8.266, aprovando o Código de Edificações do município. A lei ampliou as exigências do decreto do ano anterior e especificou melhor as normas de segurança.
Ao contrário do decreto anterior, a nova lei foi feita com estudo de caso e preparada por uma comissão especial da Câmara dos vereadores. Cada tipo de prédio foi enquadrado em uma categoria, que por sua vez recebeu orientações específicas sobre o uso de material contra incêndio, extintores, escadas de incêndio e saídas de emergência.
Esse foi o passo definitivo para uma legislação precisa sobre segurança predial. Com a nova lei, as edificações passaram a seguir uma norma clara e objetiva. As leis de edificações foram alteradas diversas vezes ao longo do tempo, sempre se ajustando às necessidades das novas construções e atividades empregadas nesses prédios.